sábado, 16 de junho de 2012

Capítulo 1

I
1 de Março de 2011 (parte 1)


Despedir-me da minha vida era complicado. Era como começar a viver de novo, começar tudo outra vez, fazer as mesmas conquistas, aceitar as mesmas derrotas, era como nascer de novo.
Tinha medo de que o meu passado me perseguisse, tinha medo de voltar a ter medo, mas tinha de ser, tinha de descer aquelas escadas e despedir-me dos meus pais e amigos.
Era estranho, sentia todos os passos que dava no meu coração, sentia que por um lado o que estava a fazer era fugir, era cobardia, mas já não tinha mais forças para continuar.

Lurdes: Porque demoras-te tanto?
Notava-se no olhar da minha mãe o medo infinito de perder a sua filha, de a deixar partir…
Tânia: Estive a despedir-me das minhas coisas…
Lurdes: Sabes que não precisas de ir embora.
Umas palavras tão simples da minha mãe e tão repetidas que me continuavam a magoar, já tínhamos falado muitas vezes sobre aquele assunto e sobre tudo o que me tinha acontecido, como era difícil para mim continuar naquele sitio, que mesmo custando para ela, era o melhor para mim.
Tânia: Não mãe! Eu tenho de ir. É o melhor para mim, tenta perceber isso, ajudaria muito!
Jorge: Chega Lurdes. Ela precisa de sair, de apanhar novos ares, conhecer gente nova, principalmente, gente que não conheça a sua história.
Lurdes: Não deixa de não custar. (dirigiu-se a mim, com aqueles grandes olhos azuis brilhantes que transbordavam de lágrimas á espera de um momento para se soltarem) Eu compreendo, sei que custa, mas eu sou tua mãe e vai-me custar sempre, as saudades vão ser muitas e tu não estás preparada para ir sozinha, podes-te ir abaixo, e depois, como é?
Tânia: Eu não estou sozinha, tenho o Danny e o resto dos rapazes.
Lurdes: E o Danny e o resto dos rapazes têm a banda e a sua própria vida.
Tânia: Mãe, não vale a pela, está decidido. Eu vou embora!
Todos nós, presentes naquela sala, fomos engolidos numa onda de silêncio que nos arrancou as palavras não nos deixando dizer mais nada. Ninguém teve coragem para cortar aquele momento, nem um único gesto, nem um piscar de olhos. O momento já se estava a prolongar cada vez mais, o meu pai ergueu os olhos e finalmente cortou o silêncio.
Jorge: Queres que te vá buscar as malas?
Acenei com a cabeça afirmativamente, olhei para a minha mãe que estava com o queixo encostado ao peito, não consegui olhar para a sua cara, nem ver a sua expressão, uma madeixa loira descai-a para a sua cara incomodando-lhe os olhos, mesmo assim não a tirou, nem olhou para mim.
Jorge: Vou levá-las para o carro. (passou por nós, carregado de malas e dirigiu-se para a saída)
A hora de partir estava a aproximar-se, finalmente ganhei coragem e cortei o silêncio que se instalou entre mim e a minha mãe. Aproximei-me dela e tirei-lhe a madeixa loira dos olhos.
Tânia: Eu sei que te custa mãe, mas acredita que custa mais a mim. Ficar aqui era impossível para mim, era como se ficasse a viver num pesadelo. (esperei que ela levantasse a cabeça e me dirigisse o olhar) Eu gosto muito de vocês e sei que vos custa muito a minha partida, mas por favor mãe, eu peço-te, deixa-me ir em paz, não fiques desiludida comigo, porque eu sei que é isso que tu agora sentes, eu não vou desistir de nada, vou continuar a viver!
Lurdes: Por um lado vais desistir, ou melhor, já desististe.
Tânia: Estás a ver mãe! E por isso que quero ir embora, tu e todos que me conhecem vão continuar assim com esses tipos de comentário.
Lurdes: Desculpa. Não queria dizer isto.
Tânia: Mas disseste, e por muito que não queiras vais acabar por dizer outra vez, tu e todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão presos ao meu passado.
Lurdes: Ninguém está preso ao teu passado, as pessoas só se preocupam contigo.
Tânia: Preocupam? Eu não chamava a isto preocupação. Já viste os olhos com que me olham, não é de preocupação nenhuma!
Por muito que me custasse ter aquela conversa com a minha mãe, tinha de a ter, mesmo sendo fria a escolha de palavras, tinha de as dizer, tinha de dizer tudo antes de ir embora e ir de cabeça limpa.
Jorge: Estás pronta?
Olhei para a minha mãe, não sabia ao certo como me despedir dela, por minha sorte foi ela que me abraçou, mesmo com as lágrimas a formarem pequenos rios de diferentes direções na sua pele branca da face, consegui despedir-me dela.
Lurdes: Desculpa! Eu quero que tu sejas feliz, e se aqui não estás então sai, deixa o passado enterrado e luta por um futuro melhor.
Tânia: Oh mãe, sabes como vai-me custar deixar-vos, mas tenho a certeza que vou ser mais feliz.
Limpei-lhe o pequeno rio que já tinha desaguado no pescoço, dei-lhe um beijo forte e calorento na bochecha. Olhei para ela mais uma vez e, saí.

Tânia *

8 comentários:

  1. Gostei muito!

    Quero mais!! :D

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  2. Olá Tânia!
    Adorei muito!
    Fico triste pela outra, mas esta parece prometer!
    (:

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    1. Olá!
      Obrigada!
      Sim, esta, espero, vai ser melhor! (:

      Beijinhos*

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  3. fabuloso...

    quero mais... tou super curiosa para ver o proximo...

    continua...

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  4. Estou impressionada, emocionada, surpreendida, TUDO!
    AMEI!!!
    QUERO MAIS!! já tinha saudades desse teu jeitinho para escrever!
    Inspiras-me todos os dias, nao desistas desta por favor, se o fizeres partes-me o coraçao!!
    Beijinhos estou a espera de outro capitulo

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    1. Não fofinha, desta não vou desistir.
      Obrigada (:

      Beijinhos*

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